Hollywood tem tratado ao longo dos anos as atrizes como cidadãos de segunda classe, mas isso em 2015 poderia ser, finalmente, um momento de virada. Apenas três meses desde o início do ano, dois dos três filmes com maiores bilheterias foram encabeçados por personagens femininas fortes: “Cinquenta tons de cinza“, da Universal, estrelado por Dakota Johnson (com uma bilheteria mundial de $550 milhões) e “Cinderela“, da Disney, estrelando Lily James como protagonista e Cate Blachett como a madrasta má (que já arrecadou $260 mundialmente).
“Insurgente”, a sequência da franquia “Divergente” estrelado por Shailene Woodley está com uma performance forte, com mais de $180 milhões de dólares em todo o mundo até agora. As mulheres representaram 60% ou mais nas estreias de todos esses filmes.
E nesse verão contará com alguns papéis femininos, com “Trainwreck” (encabeçado por Amy Schumer), “Spy” (com Melissa McCarthy e Rose Byrne), “A escolha perfeita 2” (estrelado por Anna Kendrick e dirigido por Elizabeth Banks), “Hot Pursuit” (uma comédia estrelada por Reese Witherspoon e Sofia Vergara), “Tomorrowland” (com a atriz recém-chegada Britt Robertson com George Clooney) e “Magic Mike XXL” (onde Jada Pinkett Smith desliza nas calças de couro de Matthew McConaughey).
Não são apenas os estúdios de filmes que estão dando às mulheres esse destaque. Os festivais de cinema já estrearam muitos filmes para o Oscar do ano que vem – e os festivais de outono trarão ainda mais. O público no Sundance foi surpreendido por Saoirse Ronan em “Brooklyn”, Blythe Danner em “I’ll See You in My Dreams” e Lily Tomlin em “Grandma.” Sally Field se tornou a queridinha do SXSW de março com sua performance em “Hello, My Name Is Doris”, uma comédia sobre distribuição de terra.
“Nunca terei um personagem parecido oferecido para mim de novo“, Field falou para o Variety. “Eles não escrevem papéis para mulheres de qualquer forma, e eles não vão escrever papéis para mulheres de idade e de cor“.
Mesmo que as mulheres representam 50% da bilheteria, os executivos dos estúdios muitas vezes se concentram em filmes dominados por homens (“Homem-aranha”, “Batman”, “X-Men” e “Homem de Ferro”). Quando alguns hits aparecem, como “Sex and the City, “The Heat” ou “Crepúsculo”, a indústria trata esses filmes como exceções. Mas a grande popularidade de “Jogos Vorazes” e “Malévola” forçou Hollywood a tratar o público feminino como uma chave demográfica e não algo posterior.
“Como uma produtora, certamente estou ouvindo mais conversas sobre fazer filmes para mulheres e meninas agora mais do que já ouvi em toda minha carreira“, disse a produtora e presidente da Women in Film, Cathy Schulman. “Mas não acho que isso está mudando para as mulheres por trás das câmeras“.
Na verdade, a situação para as diretoras parece estar ficando cada vez pior. Em 2014, as mulheres representaram 7% dos diretores dos 250 filmes de maior bilheteria, de acordo com o Center for the Study of Women in Television and Film, uma queda de 2% desde 17 anos atrás. Apesar do Sundance desse ano ostentar filmes notáveis de diretores do sexo feminino, como Marielle Heller (“The Diary of a Teenage Girl”) e Leslye Headland (“Sleeping With Other People”), as cineastas que emergem dos circuitos de festivais não recebem as mesmas oportunidades do que os homens.
“É desconcertante e isso faz com que eu queira arrancar meus cabelos”, disse Lucy Fisher, produtora de “Insurgente”. “Os fatos estão nos encarando e eles são muito ruins. Quanto mais as pessoas estão conscientes disso, mais esforços serão feitos para enfrentar.”
Os filmes ainda estão tentando pegar a TV, que prospera com fortes papéis femininos, desde “Scandal” para “How to Get Away With Murder” e “Girls.” Parte disso é econômica. Os diretores dizem que ainda há muitos obstáculos para serem atravessados quando estão tentando financiar um filme encabeçado por uma mulher. “Fomos recusados para todos que enviamos“, diz Brett Haley, diretora de “Dreams”, que financiou seu projeto de $500 mil dólares, contando com investidores individuais. “Todos estavam tipo, ‘Como podemos comercializar um filme de uma mulher de 70 anos de idade?’”
Michael Showalter, que dirigiu “Doris”, teve a mesma experiência em Hollywood. “Não só as pessoas não querem correr o risco, como elas também não sabiam o que fazer com ele“, diz Showalter. Com um pouco de sorte, algumas dessas mulheres terão indicações ao Oscar, um reconhecimento de que Hollywood pode superar sua fobia de mulheres que atingem uma certa idade. “Quando você olha para a história de prêmios da Academia, os papéis femininos não são tão ricos quanto os dos papéis atribuídos aos homens“, disse Michael Barker, co-presidente da Sony Pictures Classifcs e distribuidor de “Grandma”. “É lamentável, porque nós temos este tesouro gande de mulheres“.
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